Para os meus queridos leitores (um, portanto, aha) que não sabem ainda o que é o Kindle, eis
um artigo composto por mim há mais de um ano, para vos ajudar a conhecer o dito aparelho.
Imaginem-se a andar em transportes públicos que não tenham pessoas a envergar jornais como suas próprias caras, ou a apertá-los debaixo do braço, remetendo-nos para as obsoletas sebentas, ou mesmo ver jornais entalados entre a parede da janela e os bancos, meio-escondidos, à espera do próximo a sentar-se naquele lugar. E, depois, quiçá, abri-lo toscamente, dada a sua largura, incomodando a pessoa do lado com o limite da página, enorme, que aguça o olhar curioso a qualquer um, ou mesmo apenas com o movimento de a estender, a grande janela de folha de papel para o mundo, tocando inconvenientemente com o, agora ainda mais, proeminente cotovelo. Demasiados "desculpe" e "perdão" cuspidos a solavancos nas carruagens. E há ainda os completamente esquecidos, pisados, abandonados nesse curto asfalto do trabalhador, o chão do transporte público com folhas ladinas e atrevidas, escancaradas no caminho, a enrolarem-se nos pés dos transeuntes em últimos pedidos de atenção desesperados.
Mas de que falo eu? Esses jornais são na sua maioria, provavelmente, os gratuitos. Pasquins esses que, tão cedo, "nunca" chegarão ao Kindle.
O jornal Público, fã de inovações no âmbito da Internet, é agora o primeiro jornal português a ser disponibilizado para o formato digital do leitor Kindle, mas sem imagens, tabelas ou suplementos especiais. Com uma mensalidade de aproximadamente 10,25 euros, o jornal é entregue diariamente no Kindle, via
wireless, a partir das 06:30 da manhã (horário de Lisboa).
Tudo aquilo de que eu falava anteriormente, não é preciso sequer imaginar, pois parece-me que o Kindle em Portugal não terá números significativos. Além do que, parece-me haver um erro de
target: as pessoas que lêem jornais dito sérios enquadram-se numa faixa social de classe média ou alta, e de faixa etária avançada, e fazem-no no conforto a que estão habituados, com os olhos mais que habituados a ler o mundo em folhas impressas de jornal e não em janelas digitais.
O preço do leitor digital de livros, entre outros, é pouco superior aos 100 euros e na América, muito graças à promoção do mesmo no programa da Oprah, já chegou a muitas pessoas. Em Portugal, talvez os adolescentes de hoje, que não manifestam ter grandes hábitos de leitura, e cada vez mais parecem ter os olhos e o cérebro programados para verem tudo num ecrã, provavelmente serão os beneficiários do amanhã dos
e-books que entretanto proliferarem no mercado a par com o crescimento das soluções digitais das editoras em Portugal.