A este crescendo que tem como origem o próprio aumento da diversidade e qualidade tecnológicas, soma-se um aumento de simplificação dos processos de decisão e dos comportamentos interpessoais que resulta numa perda de qualidade das experiências e aprendizagens dos mesmos.
Inicialmente, temos história do Homem que inventava materiais e processos para facilitar a sua vida em termos pessoais e sociais à medida que as necessidades surgiam. Depois, tenho em crer, que se tornou numa questão de conformismo e comodismo: "se eu posso inventar e criar, se tenho essa capacidade, porque não exercê-la para me dar mais conforto".
Isto resultou em que a maioria da tecnologia que é criada nos últimos tempos não tenha, em termos reais, tanta servitude quanto isso, ou seja, podia-se passar bem sem ela. É claro que aliada à urgência do belo e do rápido, a Tecnologia adoptou um estatuto não de "corresponder a uma necessidade humana" mas sim de embelezá-la e de ser objecto de sonho e fugacidade.
O ser humano criou muitos aparelhos aos quais pode dar ordens, comandar e ter imediata satisfação com as suas respostas. Estranha-me verificar que, se antes o Homem criou para poder dar ordens e comandar, agora vê-se escravo desses mesmos aparelhos e não consegue fugir a fazer o que eles ditam, muitas vezes nem se apercebem disso.
Teóricos defendem que os instrumentos que o homem cria, a Tecnologia, é sempre uma extensão dos seus membros e sentidos. Em verdade, é o Homem que desenha e coloca todos os parâmetros e atribui as funcionalidades que os aparelhos têm, até mesmo as ordens/requisitos que eles exigem aos seus usuários. Com isto poderia concluir que o Homem criou a Tecnologia para a comandar e em última instância para se comandar; aliviando-se de uma parte do processo decisivo será que o Homem no fundo fê-lo para se controlar? E tendo-se de facto demitido de certas exigências do pensamento decisório, terá o ser humano realmente afastado a pressão da decisão?
Parece-me claro que o que foi removido da equação Homem+Tecnologia+Decisão=Acção foi a responsabilidade, dando-se assim um falso alívio da pressão da Decisão e um falso demitir de responsabilidade na Acção. O facto de decidir carregar num botão para obter certa acção, um pouco como quando se paga com o cartão multibanco, retira materialidade e consequente peso da própria acção.
Numa metáfora mais visceral, lembro-me de que como seria menos impactante na consciência de um indíviduo matar alguém com as próprias mãos ou com uma arma. O/s meio/s (medium/media) que se usam para concretizar uma acção suavizam-na, de tal modo que a podem tornar inexistente na mente de quem as pratica. Sim, definitivamente, a Tecnologia (nas mãos do Homem; e estou a falar da usada no quotidiano) pode ser muito perigosa e é motivo de preocupação, em especial para o resultado (e também futuro) que está a ter nas gerações mais jovens.
1 comentário:
Entretanto apanhei esta frase do Karim Rashid, que vem reforçar a ideia presente no meu texto: "Every business should be completely concerned with beauty - it's after all a collective human need."
Sou uma grande adepta do Design funcional, melhorar o que existe; já outros tipos de Design acabam por cair na superficialidade, até mesmo tornar kitsch.
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